terça-feira, 15 de julho de 2014

HOMENS E MULHERES TÊM CONEXÕES DIFERENTES NO CÉREBRO

Todos sabem recitar a regra popular sobre a mente de homens e mulheres: enquanto o cérebro masculino é bom para ação motora e visão espacial, o feminino supera em linguagem e sociabilidade. Essa estereotipagem ainda é debatida, mas neurocientistas oferecem agora evidências físicas a favor da teoria.

Um estudo feito na Universidade da Pensilvânia indica que homens têm ênfase maior que mulheres nas conexões entre os neurônios dentro de cada hemisfério cerebral. E mulheres, por sua vez, têm em média mais conectividade entre um hemisfério e outro (veja quadro abaixo).

Segundo artigo dos cientistas na revista "PNAS" , essa diferença coincide com o tipo de funcionalidade cerebral associada às habilidades mais femininas e mais masculinas. O mapeamento de conectividade cerebral feito pelo grupo usou a ressonância magnética por difusão, uma técnica capaz de enxergar mechas finas de axônios, os "cabos" que conectam os núcleos dos neurônios.

Outros estudos já mostravam algumas diferenças que existem entre cérebros de homens e mulheres "mas não explicavam essa complementaridade" de habilidades, afirma o texto do artigo. O trabalho foi liderado pela neurocientista Ragini Verma e assinado por mais nove colegas.

Para chegar à conclusão, os cientistas submeteram 949 pessoas de 8 a 22 anos de idade ao mapeamento por ressonância magnética. A conclusão do estudo, apesar de fraseada de modo diferente, remete ao tipo de divisão de habilidades psicológica incorporado à cultura popular.

"Cérebros masculinos são estruturados para facilitar a conectividade entre ação coordenada e percepção", diz Verma, "enquanto cérebros femininos são projetados para facilitar a comunicação entre os modos de processamento intuitivo e analítico".

NATUREZA E CRIAÇÃO
As diferenças mais acentuadas no novo estudo de mapeamento cerebral, porém, só foram vistas em adultos, afirmam os autores do trabalho. Meninas e meninos não exibiam, em média, a disparidade anatômica que foi vista em homens e mulheres. Isso abre espaço para que a origem das diferenças seja cultural e não de nascimento.


Outras diferenças anatômicas vistas pelo estudo de Verma já eram conhecidas. Uma delas é o fato de mulheres possuírem mais massa cinzenta (parte do cérebro que concentra núcleos de neurônios) do que homens, em relação ao tamanho de seu cérebro. Eles, por sua vez, têm mais massa branca (composta de axônios, os "cabos" que conectam neurônios).

Essa distinção, contudo, não parece ter relação com comportamento. E os estudos cognitivos nos quais Verma encaixa suas descobertas anatômicas, além disso, não parecem ser ainda consenso firme entre pesquisadores.

"A evidência que eu conheço é que, quando existem diferenças quantitativas, elas são mínimas e têm uma influência cultural gigantesca", afirma a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, professora da UFRJ. "A cultura indica a expectativa, porque o estereótipo é essencialmente incutir expectativas diferentes em meninos e meninas."

Verma, porém, defende a correlação apontada pelo estudo, que usou um mapeamento de última geração em uma amostra de voluntários com tamanho inédito.

Jornal Folha de SP

100 TRILHÕES DE CONEXÕES NO CÉREBRO


Um único neurônio está sobre placa de petri, isolado, mas vibrando, muito satisfeito consigo mesmo. De vez em quando, libera espontaneamente uma onda de corrente elétrica que percorre todo o seu corpo. Ao aplicar pulsos elétricos a uma extremidade do neurônio, ele pode responder com novos pulsos de tensão. Mergulhando o neurônio em vários neurotransmissores, é possível alterar a intensidade e o sincronismo das ondas elétricas. Na placa, isolado, o neurônio não consegue fazer muita coisa. Mas coloque 302 neurônios juntos, e eles se tornam um sistema nervoso capaz de manter vivo o verme Caenorhabditis elegans, sondar o ambiente, tomar decisões e enviar comandos para o corpo do organismo. Junte 100 bilhões de neurônios – com 100 trilhões de conexões – e terá um cérebro humano, capaz de fazer muito, mas muito mais.

Continua um mistério o fato de nosso cérebro se formar a partir de um conjunto de neurônios. A neurociência ainda não tem condições de esclarecer esse enigma, apesar de todas as suas conquistas. Alguns neurocientistas passam a vida toda explorando neurônios isolados. Outros escolhem uma escala mais alta: observam, por exemplo, como o hipocampo – um aglomerado de milhões de neurônios – codifica as lembranças. Outros estudam o cérebro numa escala ainda mais refinada analisando as regiões ativadas em processos como ler ou sentir medo. Mas poucos tentam visualizar o cérebro em todas essas escalas simultaneamente. Em parte, a dificuldade está relacionada à natureza complexa do empreendimento. A interação apenas entre alguns neurônios pode ser um conjunto complexo de feedbacks. Acrescente mais 100 bilhões de neurônios e esse problema se transforma num insolúvel quebra-cabeça.

Alguns cientistas, no entanto, consideram que chegou a hora de enfrentar esse desafio. Eles acreditam que nunca entenderemos de fato como o cérebro se forma a partir do sistema nervoso, mesmo dividindo-o em peças separadas. Observar apenas os pedaços seria o mesmo que tentar descobrir como a água se congela estudando uma única molécula dela. “Gelo” é um termo sem sentido na escala de moléculas individuais. O conceito só existe graças à interação entre um número imenso de moléculas, que se agregam para formar cristais.

Felizmente, os neurocientistas podem se inspirar em outros pesquisadores que estudam diferentes formas da complexidade há décadas – do mercado de ações e circuitos de computadores à interação gênica e proteica em uma única célula. O mercado de ações e uma célula podem não ter muito em comum, pois os pesquisadores descobriram algumas semelhanças intrínsecas em todos os sistemas complexos que estudaram. Ferramentas matemáticas específicas foram desenvolvidas para facilitar a análise desses sistemas. Os neurocientistas estão começando a usar essas ferramentas para tentar entender a complexidade do cérebro. A pesquisa está apenas engatinhando, mas os resultados já são promissores. O importante, segundo os cientistas, é descobrir as regras que bilhões de neurônios obedecem para se organizar em redes, e como elas se unem numa única estrutura coerente que chamamos cérebro. Para eles, a organização dessa rede é fundamental para entendermos um mundo sempre em mudanças. Alguns transtornos mentais mais devastadores, como esquizofrenia e demência, podem resultar do colapso parcial de redes
cerebrais.

Os neurônios formam redes estendendo axônios, que fazem contato com outros neurônios. Quando isso ocorre, um sinal que se propaga por uma célula nervosa pode disparar uma onda de corrente em outros neurônios. Como cada célula pode se unir a milhares de outras – tanto as próximas, como as que se encontram do outro lado do cérebro – as redes neurais podem assumir um incrível número de arranjos. A forma como uma determinada rede se organiza tem enormes implicações no funcionamento do cérebro.
CÉREBRO DE BRINQUEDO
qual a melhor forma de estudar a rede de neurônios do cérebro? Que experimentos os cientistas podem fazer para rastrear bilhões de conexões em rede? Uma alternativa é construir um modelo do cérebro em miniatura, que mostre as diferentes formas de interação entre os neurônios. Olaf Sporns, da Indiana University, e seus colegas criaram exatamente esse modelo. Na simulação, juntaram 1. 600 neurônios e os distribuíram sobre uma superfície esférica, ligando depois cada neurônio aos demais. Em qualquer instante, todos os neurônios têm uma chance mínima de se ativar espontaneamente. Uma vez ativados, têm também uma pequena chance de acionar outros neurônios ligados a eles.

Sporns e sua equipe soldaram as conexões entre os neurônios e observaram o cérebro de brinquedo em ação. Inicialmente conectaram cada neurônio apenas a seus vizinhos imediatos. Com a rede formada, o cérebro produzia pequenos lampejos aleatórios de atividade. Quando um neurônio se ativa espontaneamente, cria uma onda elétrica que desaparece rápido. Quando os pesquisadores ligaram cada neurônio aos demais, no cérebro, o padrão resultante foi bem diferente: o cérebro inteiro foi ativado e desativado em pulsos regulares.

No fim, os cientistas acabaram atribuindo cérebro uma rede intermediária, criando conexões locais e de longa distância entre os neurônios. O cérebro havia se transformado, então, num sistema complexo. Quando os neurônios começaram a se ativar, surgiram grandes padrões brilhantes de atividade que se propagavam pelo cérebro. Alguns deles colidiam entre si e outros se propagavam pelo cérebro em círculos.

O cérebro de brinquedo de Sporns ensinou uma lição importante sobre o aparecimento da complexidade. A própria arquitetura da rede molda seu padrão de atividade. Sporns e outros pesquisadores estão aprendendo as lições que juntaram aos poucos de outros modelos cerebrais e tentando obter padrões similares em cérebros reais como os nossos. Infelizmente, os cientistas não podem monitorar cada neurônio de nosso cérebro. Por isso, usam técnicas inteligentes para registrar a atividade de alguns neurônios e tiram conclusões fantásticas desses resultados.

EM PLACAS DE PETRI
dietmar plenz, neurocientista do instituto nacional de saúde mental dos Estados Unidos, e seus colaboradores tentaram analisar a arquitetura do cérebro estimulando o crescimento de volumes de tecido cerebral do porte de sementes de gergelim em placas de Petri. Eles prenderam 64 eletrodos ao tecido para examinar o acionamento espontâneo dos novos neurônios. Os eletrodos detectaram uma rápida manifestação de atividade conhecida
como avalanches neurais.

De início, parecia que os neurônios estavam apenas espoucando com ruído aleatório. Se isso estava realmente ocorrendo, então haveria a mesma probabilidade de que cada avalanche neural fosse mínima ou de grande alcance. No entanto, não foi isso que Plenz e os colegas descobriram. Avalanches pequenas eram muito frequentes; as grandes, mais raras; e as muito grandes, mais incomuns ainda. Num gráfico, as probabilidades de ocorrência de diferentes tamanhos formavam uma suave curva descendente.
Os cientistas já estavam bem familiarizados com esse tipo de curva. Os batimentos cardíacos, por exemplo, não são todos iguais. A maioria é um pouco mais longa ou mais curta que a média. Um pequeno número de batimentos é muito mais longo ou curto, e um número muito menor é ainda mais longo ou curto que a média. Terremotos seguem o mesmo padrão. O deslocamento das placas continentais produz muitos terremotos fracos, mas poucos muito intensos. Durante epidemias, normalmente novos casos surgem a cada dia, com um surto esporádico de novos casos. Se fizermos um gráfico, os batimentos cardíacos, terremotos e o número de novos casos, eles formarão um curva
exponencial descendente.

Essa curva, conhecida como lei de potências, é a marca registrada de uma rede complexa que engloba conexões de curta e de longa distância. Um tremor em determinado ponto da Terra pode, em alguns casos, espalhar-se somente por uma área restrita. Em casos raros, o abalo se estende por uma região mais ampla.

Os neurônios se comportam da mesma forma. Às vezes ativam apenas seus vizinhos imediatos, mas, em outras podem deflagrar uma onda de atividade que se estende por uma vasta área.

A forma de curva da lei de potência pode fornecer pistas sobre a rede que a produziu. Plenz e seus colaboradores testaram várias redes neurais possíveis para ver quais produziam avalanches neurais como no caso de neurônios reais. O melhor ajuste para a curva foi obtido com uma rede de 60 aglomerados de neurônios. Esses aglomerados estavam conectados, em média, a 10 outros, e as conexões não se espalhavam aleatoriamente entre eles. Poucos aglomerados continham inúmeras conexões, enquanto muitos apresentavam apenas algumas. Como resultado, o número de conexões de um aglomerado com qualquer outro era bastante reduzido. Os cientistas chamam esse tipo de arranjo de redes de pequeno porte.

Verificou-se que esse tipo de rede pode tornar o cérebro absolutamente sensível aos sinais que chegam até ele, da mesma forma como um microfone amplifica uma ampla faixa de sons. Plenz e sua equipe aplicaram descargas elétricas de diferentes intensidades e mediram a resposta neural. Verificaram que descargas fracas estimulam um número limitado de neurônios, e descargas fortes provocam respostas intensas de uma faixa mais ampla de células.

Para entender como a estrutura da rede afeta essa resposta, os pesquisadores adicionaram uma droga aos neurônios que enfraquecia as conexões entre eles, e as células nervosas deixaram de responder aos sinais fracos. Mas, resultados diferentes foram obtidos quando os cientistas injetaram uma droga que tornava os neurônios mais propensos a se ativar em resposta ao contato com seus vizinhos. Nesse caso, os neurônios responderam intensamente aos sinais fracos – tão intensamente que a resposta aos sinais fracos equivalia à dos fortes. Esses experimentos revelaram como as redes neurais podem ser finamente sintonizadas e como essa sintonia fina permite que elas transmitam os sinais com precisão. Se os neurônios fossem organizados numa rede diferente, produziriam respostas incoerentes e sem sentido.
A grande dúvida agora é como relacionar a atividade observada na placa de laboratório com os processos mentais do dia a dia. Observando o cérebro como um todo, os pesquisadores descobriram padrões de atividade espontânea que refletem o mesmo tipo de padrão encontrado por Plenz nos blocos de tecido cerebral. Marcus E. Raichle da Washington University em St. Louis, e seus colaboradores descobriram que as ondas elétricas podem se propagar por todo o cérebro em padrões complexos quando estamos descansando, sem pensar em nada específico. Experimentos recentes sugerem que essa atividade espontânea pode desempenhar papel vital na vida mental. Pode permitir que a mente em repouso afete suas funções internas, revendo lembranças e planejando o futuro.

CARTÓGRAFOS NEURAIS
para entender como essas ondas se comportam, os neurocientistas estão tentando mapear as conexões entre neurônios de todo o cérebro. Considerando o desafio de investigar o que ocorre num minúsculo pedaço de tecido cerebral, esse desafio parece gigantesco. Sporns dirige um dos projetos mais ambiciosos de mapeamento neural. Juntamente com Patric Hagmann, da Universidade de Lausanne, na Suíça, e seu grupo de neuroimagem, ele analisou dados obtidos do cérebro de cinco voluntários, usando um método conhecido como imagem de espectro de difusão, ou DSI (na sigla em inglês). O DSI captura rapidamente imagens de axônios cobertos por uma fina camada de gordura – fibras longas que se conectam a diferentes regiões do córtex, conhecida como matéria branca. Os cientistas selecionaram quase mil regiões do córtex e mapearam conexões da matéria branca de cada uma delas com as demais.

A partir daí criaram uma versão simulada dessas mil regiões e realizaram experimentos para analisar os tipos de padrão produzidos. Cada região gerou sinais que podiam se propagar para as regiões conectadas, fazendo com que neurônios de outras regiões também enviassem sinais semelhantes. Quando esse cérebro virtual foi ativado, começou a produzir ondas de atividade que se desviavam de maneira lenta. Curiosamente, essas ondas se pareciam com as oscilações reais observadas por Raichle em cérebros em repouso.

A rede que Sporns e seus colegas mapearam em todo o cérebro apresenta uma organização muito semelhante àquela menor, que Plenz encontrou em seus pedacinhos de tecido: uma rede de pequeno porte, com poucos centros ou nós bem conectados. Essa arquitetura de grande escala pode ajudar nosso cérebro a economizar recursos e trabalhar mais rápido. Gastamos muitos recursos para desenvolver e manter a matéria branca. Como alguns centros bem conectados, nosso cérebro precisa de muito menos matéria branca do que necessitariam outros tipos de redes. E como são necessárias poucas conexões para ir de uma parte a outra do cérebro, a informação é processada mais rapidamente.
Em um ano, os neurocientistas terão condições de gerar mapas muito mais precisos das redes neurais, graças a um roje to de US$ 30 milhões lançado em 2009 pelo Instituto Nacional da Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês). Conhecido como Human Connectome Project (a exemplo do Human Genome Project), o projeto pretende identificar todas as conexões entre neurônios de um cérebro adulto. Mas mesmo um mapa tão amplo não deverá abrigar a complexidade do cérebro humano, porque os neurônios utilizam somente um subconjunto de conexões cerebrais para se comunicar com outros. De uma hora para outra, essa rede poderá mudar de forma à medida que algumas conexões são desativadas e outras ativadas. Para criar modelos cerebrais, que possam capturar todas essas redes dinâmicas, será preciso lançar mão de todas as artimanhas da interação que a teoria da complexidade pode oferecer.

NEURÔNIOS DE WALL STREET
dois matemáticos do dartmouth college, Daniel N. Rockmore e Scott D. Pauls, estão tentando analisar essa complexidade tratando o cérebro como um mercado de ações. Os dois ambientes consistem em grandes quantidades de pequenas unidades – neurônios e investidores – que estão organizados em uma rede de larga escala. Os investidores podem influenciar os demais na forma de comprar e vender ações; e essa influência pode se espalhar e afetar o mercado todo, fazendo o valor dos títulos subir ou descer. A rede toda, por sua vez, pode influenciar níveis mais baixos. Quando o mercado de ações começa a subir, por exemplo, os investidores isoladamente podem querer entrar numa corrida que faz o mercado subir mais ainda.

Rockmore, Pauls e seus colegas desenvolveram um conjunto de ferramentas matemáticas para descobrir qual o tipo de estrutura da rede da Bolsa de Valores de Nova York. Eles tiveram acesso aos dados do preço de fechamento diário de 2.547 ações durante 1.251 dias e tentaram encontrar semelhanças na variação de preços de diferentes papéis – por exemplo: uma tendência de ascensão e queda praticamente simultânea. Essa pesquisa revelou a existência de 49 aglomerados de ações. Quando os cientistas retomaram os dados financeiros, descobriram que os aglomerados correspondiam principalmente a determinados setores da economia, como software ou restaurantes, ou a determinadas regiões, como América Latina ou Índia.

O fato de terem encontrado essas categorias simplesmente analisando dados tornou os cientistas mais confiantes nos próprios métodos. Afinal de contas, faz sentido que ações de empresas de acesso à internet tendam a subir e cair em cadeia (efeito dominó). Um vírus perigoso poderia pôr em risco o grupo todo.

Rockmore e Pauls também descobriram que esses 49 aglomerados estavam, na verdade, organizados em sete superaglomerados. Em vários casos, esses superaglomerados correspondiam a indústrias que dependem umas das outras. O setor de shoppings lineares e o setor da construção caminham lado a lado. Os pesquisadores também perceberam que esses superaglomerados estavam ligados a um loop gigantesco criado, provavelmente, por uma prática comum entre administradores de investimentos, chamada de rotação setorial.
Ao longo de vários anos esses administradores movimentaram o dinheiro de uma parte da economia para outra. No momento, Rockmore e Pauls estão usando os mesmos métodos matemáticos para construir modelos cerebrais. Em vez de informação financeira se movimentando de uma parte do mercado para outra, eles analisam informações que se deslocam de uma região do cérebro para outra. E da mesma forma que os mercados financeiros têm redes dinâmicas, o cérebro pode reorganizar sua rede de um momento para outro.

Para testar seu modelo, Rockmore e Pauls analisaram, recentemente, imagens de ressonância magnética funcional (fMRI) que Raichle e seus colegas obtiveram do cérebro de uma pessoa em repouso. Eles observaram o aumento e diminuição da atividade de cada voxel – a menor região que uma fMRI pode medir, ou seja, uma porção do cérebro do tamanho de um grão de pimenta. Eles tentaram encontrar relações íntimas entre os padrões. Exatamente como os dois aglomerados no mercado de ações, eles agora descobriram que os voxels podiam ser agrupados em 23 aglomerados. E estes, por sua vez, pertenciam a quatro aglomerados maiores. Curiosamente, esses quatro aglomerados maiores correspondiam a uma versão neurológica da rotação setorial que Rockmore e Pauls encontraram no mercado de ações. Esses aglomerados se mantêm juntos num loop, e ondas de atividade os arrastam
num ciclo.

Como Rockmore e Pauls já são capazes de reconstruir a rede num cérebro em repouso, agora estão interessados em estudar o cérebro em ação, isto é, pensando. Para entender como o cérebro altera sua organização, eles analisaram dados de fMRI de pessoas às quais eram mostrados alguns objetos. Se o modelo funcionar, os pesquisadores poderão predizer que tipo de resultado os neurocientistas obteriam da imagem de ressonância magnética de uma pessoa que recebe um determinado tipo de estímulo, como ver o rosto de um velho amigo. Isso poderia tornar a neurociência uma ciência verdadeiramente profética.

Apesar dos avanços já obtidos, ainda vai demorar até a complexidade do cérebro humano ser completamente decifrada. O verme C. elegans é um bom exemplo disso. Há mais de 20 anos o mapeamento de todas as conexões que interligavam seus 302 neurônios foi concluído, mas até agora os pesquisadores não sabem como essa rede simples dá origem a um sistema nervoso dinâmico.
 

Scientific American Brasil

JEITO NOVO DA NOVA GERAÇÃO

O mercado de Recursos Humanos, os jovens desta reportagem seriam classificados como a chamada "geração Y" - os nascidos na década de 80 até meados dos anos 90. Essa é a primeira geração que não precisou aprender como lidar com equipamentos eletrônicos e em pouco tempo de vida presenciou os maiores avanços na tecnologia. Ao chegar ao mercado de trabalho, esses profissionais foram considerados inovadores e empreendedores. Mas, o que acontece quando eles escolhem ser professores? Se engana quem pensa que, por terem tanta familiaridade com o uso de recursos tecnológicos, eles sejam seus entusiastas. Muito pelo contrário: consideram a tecnologia algo natural, mas não veem sentido em usá-la em sala de aula sem um claro propósito. Na forma de perceber o processo educacional, entretanto, eles promovem uma revolução silenciosa: são abertos ao diálogo, buscam soluções criativas, gostam de realizar pesquisas e inventam jogos e até novas disciplinas em busca de algo muito simples: o prazer de ensinar e a paixão pelo conhecimento.

"A escola tem mudado. Claro que as instituições têm certa permanência - não só a escola, mas a Justiça, a Igreja, etc. Mas esse discurso muito em voga de que a escola não evolui vem desde a década de 20 do século passado e é falso", afirma Paulo Gileno Cysneiros, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que nas últimas três décadas tem se dedicado ao ensino e  pesquisa em tecnologias da informação e comunicação na educação.

Para Paulo, o uso das tecnologias tem o potencial de modificar os modos de pensar, de ensinar e de aprender, e até mesmo de ver o mundo. Mas a verdadeira mudança que vem ocorrendo deve-se sobretudo à capacidade criativa do professor. Ou seja, não é a tecnologia em si que está trazendo as inovações para a sala de aula, mas os jovens professores que entendem como natural o fato de que o conhecimento está disperso, pulverizado no mundo, nas redes sociais, na internet. E assumem sem problemas o papel de guiar e estimular os alunos a encontrarem por eles mesmos o que desejam.
Antropologia urbana
Luís Fernando Massagardi, 31, é de um desses professores que ajudam os alunos a navegar pelo mundo. Mas no caso dele, é pelo mundo real mesmo: ele orienta estudantes do ensino médio a fazerem pesquisas de campo.

Há cinco anos atuando como professor, ele criou uma nova disciplina, que ministra para os alunos do 2º ano do ensino fundamental no colégio particular Ofélia Fonseca, em São Paulo (SP). Chama-se antropologia urbana. "A proposta é fazer uma discussão sobre os grupos sociais da cidade e como eles atuam no espaço urbano", explica. Para "estudar", os alunos precisam deixar os muros da escola e explorar espaços da cidade que pouco conhecem.

Luís Fernando, que é formado em história, diz que a ideia de montar a disciplina tem forte relação com sua experiência pessoal. "Comecei trabalhando em museus e com viagens para estudos de meio. Por isso acredito em práticas educativas que extrapolem a escola como um ambiente fechado, não só no plano de discutir o mundo mas também de estar fisicamente fora",  afirma. 

O professor conta que se sente muito próximo de seus alunos, mas acredita que não seja pela idade, e sim pela sua metodologia. "O diálogo é um ponto fundamental na minha prática. Então, estou sempre aberto para as trocas", diz. Por causa dessas "trocas" que promove com seus estudantes, Luís Fernando se tornou um dos idealizadores do Festival de Artes do colégio, aberto para a comunidade e divulgado pelas redes sociais da internet pelos próprios alunos.
Brincar de ensinar
Uma mudança de comportamento entre os jovens que iniciaram suas carreiras profissionais nos últimos anos é a busca de satisfação pessoal no trabalho. Para eles, dever e prazer devem estar associados. Com os professores, a atitude não é diferente. Em uma pesquisa da Fundação Instituto de Administração (FIA/USP) realizada há três anos com 200 jovens de São Paulo nascidos entre 1980 e 1993, 99% dos entrevistados disseram que só se mantêm envolvidos em atividades de que gostam. Além disso, no levantamento feito por Ana Costa, Miriam Korn e Carlos Honorato, 96% afirmaram que consideram que o objetivo do trabalho é a realização pessoal. Para a pergunta "qual pessoa gostariam de ser?", a resposta "equilibrado entre vida profissional e pessoal" alcançou o primeiro lugar, seguida bem de perto por "fazer o que gosta e dá prazer".

O magistério sempre foi uma opção que envolve boas doses de idealismo e paixão, mas cresce a tendência entre os jovens de incluir no "gostar de ensinar" a ideia de diversão propriamente dita. Brincadeiras, jogos, campeonatos cada vez mais entram no rol de atividades propostas mesmo aos alunos do Fundamental 2 e ensino médio.

Luana Gabriela Marques, 31, inventa de tudo um pouco em suas aulas de português para turmas do 6º ano ao 3º do ensino médio no Colégio Brasil Canadá, em São Paulo (SP). "Faço desafios, campeonatos individuais, entre grupos, jogos de tabuleiro, jogos em que eles formulam as perguntas uns para os outros. Gosto de trabalhar com a criatividade do aluno. No fim do bimestre, dou uns pontinhos a mais na média pelo desempenho nas brincadeiras. Também premio com bombons ou livros", conta a professora.

Mas tanta "recreação" no meio das aulas não significa que os alunos não levem os estudos a sério. "Uso esses recursos em nome do aprendizado. Sou uma professora exigente. E mesmo com esse perfil de brincar, fazer jogos, não tenho problemas em conseguir silêncio, nem com falta de lição de casa", conta Luana.

Montar aulas sempre pensando na diversão dos alunos tem como "efeito colateral" fazer a professora também se divertir - e muito. "Estou sempre criando exercícios novos. Não consigo fazer uma aula que não tenha a ver comigo, que fique chata", conta. Esse comportamento faz com que Luana se aproxime dos alunos e também aprenda com eles - até sobre como se divertir. "Ouço algumas músicas, acompanho certas séries de TV que eles me recomendaram", conta.
Alunos protagonistas
Carolina Silveira Leite, 27, leciona para alunos de 4º ano na rede municipal de São Paulo e faz questão de que eles tenham participação ativa nas aulas. Muito de sua prática pedagógica vem como resultado de sua experiência como aluna. Carolina é formada em letras e acaba de concluir sua segunda graduação, em pedagogia, pela Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp). Ao estudar por EaD, ela diz ter aprendido também a importância de o aluno estar motivado e ter um papel ativo na construção do conhecimento. "Não adianta substituir a lousa por um computador. O aluno precisa estar produzindo para se interessar", afirma.

Atualmente, os alunos de sua turma estão montando um blog para publicar as descobertas que fizeram em um projeto sobre insetos.

Foram os alunos que propuseram questões, pesquisaram na biblioteca e na internet, e agora estão escrevendo textos e indicando links para compartilhar o que aprenderam. "Ainda não conseguimos respostas para algumas das dúvidas. Estamos estudando novas estratégias, como enviar perguntas a revistas especializadas", diz Carolina.

Claro que a capacidade de inovar ao trazer o aluno para participar da produção do conhecimento não é uma questão meramente de faixa etária. Mas para um professor com certo passado "tecnológico educacional" é mais fácil entender que na sociedade atual a educação não se limita a escutar aulas expositivas, ler textos escolares e realizar provas. "As tecnologias da internet permitem que o aluno tenha outras opções, como, por exemplo, aprender o que queira, quando queira, no lugar que queira, de uma maneira colaborativa", afirma Lucio França Teles, professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB).

Como consequência, diz Lucio, a curiosidade dos alunos acaba aumentando o escopo do currículo, assim como aconteceu com a turma da professora Carolina, pois eles não ficam circunscritos ao que "deve" ser aprendido para serem aprovados. "O acesso a colegas e a informações de várias fontes torna o processo de aprendizagem mais dinâmico e motivante", acredita.
Apoio  na formação
Essa visão ampla e inovadora da educação vale não apenas na hora de ensinar os alunos, mas também quando os próprios professores desejam se manter atualizados. A professora Liliane Rodrigues, 28, da escola bilíngue Cidade Jardim Playpen, São Paulo (SP), também é formada em letras e está fazendo sua segunda graduação, em pedagogia. Mas além de usar as fontes acadêmicas e formais para se aprimorar, ela está constamente aprendendo em espaços informais, como na leitura de blogs de outras professoras.

Embora essa prática não lhe renda nenhum diploma, nascem dela dezenas de ideias e práticas que melhoram seu trabalho docente. "Uma vez li em um blog de uma professora americana sobre um curso on-line de alfabetização multissensorial. Fiquei interessada e conversei com a coordenadora. A escola acabou pagando para eu fazer o curso", conta ela, para quem o apoio da coordenação para crescer profissionalmente é fundamental. "Hoje mudei minha forma de dar aula, aplico muito do que aprendi. Eles investiram em mim, confiaram", comemora.
Empreendedorismo pedagógico
Para Carlos Seabra, consultor de projetos de tecnologia educacional, a prioridade das instituições de ensino deve realmente ser a formação continuada de seus professores. "Entre inúmeros outros fatores, os gestores e coordenadores podem facilitar condições para o que chamo de "empreendedorismo pedagógico" dos professores, ou seja, incentivo à pesquisa e à criatividade, com estímulos e apoios concretos a essas iniciativas", afirma.

Mesmo que seja difícil conseguir verba para formação, especialmente para cursos não oficiais, é possível criar condições para o empreendedorismo pedagógico, já que não se trata simplesmente de dispor de recursos financeiros, mas de estar aberto às iniciativas sugeridas. "O professor inovador, aquele que tenta novos formatos pedagógicos com suporte da tecnologia da comunicação e aprendizagem, tende a buscar instituições educacionais que deem suporte às suas ideias e práticas", afirma Lucio Teles, da UnB.

Confiar no potencial do professor e dar uma carta branca a ele foi o que fez a escola estadual Olinda Conceição Teixeira Bacha, de Campo Grande (MS), para o projeto idealizado por Alexandre Gonçalves Souza, 28 anos. Por seu perfil, era possível perceber que Alexandre era alguém que gostava de experimentar e aceitava desafios. Sem nunca ter estudado informática formalmente - sempre aprendeu "fuçando" - Alexandre tornou-se professor de tecnologia. Foi então que há três anos ele recebeu da direção o desafio de fazer um projeto que melhorasse o aprendizado em português e matemática daquela que era considerada "a pior turma" do colégio, que fica na periferia da capital.

"Era uma sala de 8º ano com os piores desempenhos nas avaliações internas. Eles não se respeitavam e não respeitavam os professores, não tinham vontade de aprender. Era um clima de guerra", lembra o professor. Com uma verba de R$ 20 por mês, obtida com a venda de picolés na escola, Souza montou um agência de publicidade experimental com os alunos. "Assim consegui envolver a professora de artes, de que eles gostavam, e também de português, inglês (para ajudar nos textos) e matemática (para fazer os orçamentos)."

O primeiro trabalho da agência foi desenvolver uma campanha antibullying para a direção da escola. "No começo eles não queriam fazer. Mas ver o resultado espalhado pela escola, compartilhado no Facebook e na página da secretaria de Educação os motivou", conta. Em apenas um semestre, a "turma problema" virou "turma modelo".  No ano seguinte, o projeto ganhou três prêmios: um da Assembleia Legislativa do Estado, outro do Ministério da Educação e o prêmio Professores Inovadores da Microsoft. "Os alunos foram apresentar a agência num seminário estadual de tecnologia e foram aplaudidos por diretores, coordenadores. Eles contaram que nunca imaginaram que isso pudesse acontecer", relata o professor.
Fator desestabilizante
Mas é claro que nem tudo são flores. Conhecida pelo seu individualismo, às vezes essa geração encontra resistências e conflitos no ambiente escolar. Entre as características da nova geração de professores está a busca por respostas e mudanças rápidas. Quando isso não acontece, esses profissionais preferem simplesmente ir embora e procurar outro lugar para dar aulas. Uma professora entrevistada pela reportagem, que prefere não se identificar, conta que com dez anos de magistério já tinha passado por oito escolas. "Existem escolas ainda muito tradicionais. Hoje estou feliz porque encontrei uma em que a coordenação é bem aberta", diz.

E ela não é a única a trocar de empregador por não ficar satisfeita com as relações com os superiores. Fábio Pauli conta que desistiu de certa escola por não concordar com a abordagem do diretor. "Eu tinha um aluno com necessidades especiais e sua orientação era clara e não estava aberta a discussão: o aluno não fazia provas e tirava sempre 7.

Mas como ele iria evoluir assim?", questiona. Felizmente, Pauli conseguiu encontrar uma escola em que a visão da direção estivesse de acordo com a sua.

O professor Leandro de Lima, egresso de escolas públicas, conta que chegou a dar aulas em três escolas da rede pública, mas hoje prefere trabalhar diretamente apenas com estudantes de escolas particulares. "Nosso trabalho era resolver problemas da vida dos alunos, com a família, com drogas, problemas de depredação. Nas reuniões com os coordenadores, não tínhamos tempo para discutir práticas pedagógicas", reclama.

Para Lucio Teles, da UnB, é normal que a nova geração cause um certo nível de "conflito de gerações" dentro das escolas. "Um professor inovador que cultiva  relações mais horizontais e menos autoritárias pode causar um certo temor junto àqueles professores que se posicionam de maneira mais tradicional. A inovação pedagógica na escola é sempre um fator desestabilizante, pois a maioria dos professores infelizmente ainda se apega à noção tradicional de 'transferência de conhecimentos'."

Além do imediatismo, as tendências ao individualismo e uma dose de arrogância entre os mais novos podem provocar atritos dentro das instituições de ensino. O professor da UFPE Paulo Cysneiros lembra, por exemplo, que mesmo um professor que entenda tudo de tecnologia precisa estar aberto para aprender. "Uma coisa é usar a tecnologia no cotidiano, outra é saber usá-la de forma proveitosa na educação. Para isso, primeiro ele vai ter de estudar, ter orientação de seus coordenadores", afirma.

Diretor da escola paulistana São Domingos, Silvio Barini Pinto afirma que na hora de contratar professores, jovens ou não, tenta sempre identificar a capacidade de cooperar e a disposição para aprender com os mais experientes. "Parte dos desafios da educação atual é articular o conhecimento de maneira sistêmica. Professores individualistas não combinam com essa necessidade", avalia.

Por procurar claramente profissionais que gostem de trabalhar em grupo, Silvio garante que nunca teve problemas com os mais jovens. "Algumas vezes já tive candidatos que depois de ouvirem a proposta de educação da escola se disseram não dispostos a trabalhar dessa forma. Por estatística ou por acaso, eram jovens."
Naturalidade tecnológica
Qualquer pessoa que convive desde a infância com diferentes formas de tecnologia tende a desenvolver relações mais naturais com ela, seja na vida pessoal ou profissional. Com o professor não poderia ser diferente. Afinal, a tecnologia é intrínseca à atualidade, e essa geração não costuma considerar que os recursos tecnológicos sejam por si necessariamente positivos ou negativos. Isso não quer dizer que, em sala de aula, a tecnologia deva ser usada de forma acrítica: tudo depende de como usá-las.

"Um professor que é mais conectado tem um potencial para lecionar aulas mais atrativas. Mas pode também ocorrer o contrário: um professor que é mais conectado pode passar a usar a conectividade de uma forma  repetitiva, assumindo que a tecnologia poderá cumprir um papel instrucional", defende Teles. Portanto, a tecnologia deve ser abordada de maneira crítica.

Mesmo os celulares, normalmente tidos como os grandes vilões da dispersão e banidos da maioria das salas de aula, são vistos com mais equilíbrio pelos jovens professores como Leandro de Lima, 26 anos, que leciona química no colégio Albert Sabin, em São Paulo (SP). "Todo mundo nas minhas salas tem um celular com acesso à internet. O que precisamos é pensar esses usos em vez de bater de frente e proibir", afirma o professor que, de certa maneira, é multitarefas. Além de dar aula para turmas regulares, prepara alunos da escola para as olimpíadas de química, participa de um projeto social no qual capacita professores da rede pública para usar tecnologia e ainda atua como consultor de uma editora de livros didáticos.

Para ele, os aparelhos celulares podem proporcionar situações de aprendizado. "Eu falo para os alunos: dentro de sala vai tuitar o quê? Que está na aula de química? Isso é chato, ninguém quer saber. Mas, do lado construtivo, tem aluno que entra no Google para esclarecer uma dúvida, outro que tem um simulador de experiências instalado. E eles todos usam o celular para marcar compromissos, provas, trabalhos; isso funciona muito bem", conta.
Tudo ao mesmo tempo
Para Paulo Gileno Cysneiros, professor da Universidade Federal de Pernambuco, a visão crítica do uso desses recursos na educação é positiva. "Por não terem, de certo modo, uma história, as novas tecnologias provocam de forma geral um efeito emocional receptivo. Em outras vezes elas provocam medo. Por isso mesmo é preciso olhar com cuidado. O professor deve sempre  experimentar e adaptar a máquina à sua realidade."

Há ainda certas habilidades "naturais" para a nova geração de profissionais que caem como uma luva para o perfil desejável de professores. Uma delas, sem dúvida, é a capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo. "Quando se trabalha com educação infantil numa turma que pode chegar a 20 crianças é preciso ser multitarefa", afirma Daniele Gazzotti, da escola Stance Dual, São Pauo (SP).

"Enquanto você está contando uma história tem sempre alguém pedindo para ir ao banheiro, outro que resolve cutucar o amigo e alguns prestando atenção. E a gente tem de dar conta de atender a todos."
Inspiração  no RPG
Para Fábio Ferreira Pauli, 31 anos, suas experiências pessoais com o RPG (Role-Playing Games) o motivaram a mudar a concepção de suas aulas. "Sou jogador desde os 12 anos. O RPG me ajudou a fazer amizades, me estimulou a ler", conta sobre como percebeu o potencial do jogo para o aprendizado. O RPG é um jogo de interpretação de papéis, como se cada jogador fosse um ator improvisando ações e falas mediante um contexto estabelecido por um orientador. 
Em suas aulas de ciências humanas, que integram história e geografia na Escola Novo Ângulo Novo Esquema - NANE, São Paulo (SP), ele propõe desafios de situações que de fato aconteceram. "Conto para eles, por exemplo, o cenário do bloqueio continental de Napoleão e cada um recebe o seu papel. E pergunto: o que você poderia fazer para derrotar a Inglaterra? E para derrotar Napoleão?Depois trabalho com a solução real, que aconteceu na história", relata.
Dessa forma, os alunos entendem que o estudo de história e geografia pode ajudar a pensar como resolver problemas da vida real. "A gente sempre liga escola com dever, mas aprender é também muito divertido. E eu me divirto com o que faço", afirma Pauli, que ministra oficinas em outras escolas para ensinar a técnica de usar o RPG nas aulas.
I
nspirado em práticas de colégios americanos, o professor também começou recentemente a promover debates entre grupos, sobre diversos temas, colocando uma turma para defender o capitalismo, a outra o comunismo, por exemplo. No fim, os demais alunos votam em quem eles acham que se saiu melhor. "Aqui a gente trabalha com crianças especiais, então tem um olhar voltado para a inclusão. Uma das características importantes é diversificar abordagens; não dá para ficar numa técnica só", afirma.
 
Como é o professor da nova geração
Acredita que o trabalho é realização pessoal, precisa sentir prazer em ensinar
Troca de escola se não se identificar com o projeto pedagógico 
Está aberto ao diálogo com os alunos 
Acredita em práticas educativas que extrapolem o ambiente escolar
Estimula a criatividade dos alunos com brincadeiras, jogos e campeonatos
Aproveita sua experiência pessoal em outras áreas para enriquecer as aulas
Usa as novas tecnologias com parcimônia: apenas quando faz sentido para o conteúdo a ser estudado
 
O Facebook do professor
Pedro Cordeiro, 27, professor de matemática no ensino fundamental do colégio Sidarta, de São Paulo (SP), a tecnologia na educação não pode mais ser considerada uma inovação; ela é um fato. Logo, não é por estar usando o aparelho ou software mais moderno que se está ensinando melhor. "O que eu realmente uso muito é uma ferramenta para trabalhar com a geometria que existe há mais de 15 anos - são softwares de geometria dinâmica (ambientes virtuais em que o aluno pode ver construções geométricas em três dimensões). E até hoje tem professor que não conhece", afirma.
Pedro também aproveita uma tecnologia muito difundida entre a geração dos seus alunos - o Facebook - para se manter em contato com eles. "Uso o Facebook para passar exercícios, vídeos, tirar dúvidas, marcar provas, trabalhos. Tenho um perfil para falar com os alunos, mas separo o grupo de alunos da vida pessoal - eles não conseguem ver meus amigos ou fotos em que sou marcado, por exemplo. E não aceito pais de alunos no Facebook", conta. Mas os pais, se quiserem, podem mandar e-mails.
"É comum os alunos  estarem estudando, tirarem a foto de um exercício e mandarem perguntando se está certo. Na véspera de prova é uma loucura: aquelas janelas de bate-papo ficam pipocando sem parar", relata Pedro, que costuma responder a todos prontamente.
 
revistaeducacao.uol.com.br/

A EXIGENTE [E INSTÁVEL] GERAÇÃO DO MILÊNIO


É cada vez mais difícil contratar e reter talentos. Os profissionais mais jovens estão chegando ao mercado com expectativas exageradas sobre sua carreira, que geralmente não coincidem com as de seus empregadores. São representantes da chamada geração do milênio, também conhecida como geração Y. Uma radiografia extensa desses jovens, nascidos entre 1980 e 2001, acaba de sair nos Estados Unidos sob o título The Troph Kids Grow Up: How the Millennial Generation Is Shaking Up the Workplace (“Os garotos premiados cresceram: como a geração do milênio transforma o ambiente de trabalho”), escrita pelo jornalista americano Ron Alsop, do Wall Street Journal.

Quem são esses jovens? Segundo Alsop, eles cresceram num ambiente superprotetor. Mimados por pais e professores, foram habituados a receber troféus – eis a origem do título do livro – por suas conquistas infantis. Têm uma confiança elevada nas próprias competências e costumam se irritar quando o empregador não partilha dessa avaliação. “Acham que têm condições de se tornar CEO de um dia para o outro”, diz Alsop. Esses jovens começam agora a ocupar as vagas deixadas pelos baby boomers – como são conhecidos os nascidos entre a Segunda Guerra e 1960 –, que estão se aposentando.

Suas expectativas são muito maiores do que as das gerações que os precederam. De acordo com uma pesquisa da CareerBuilder.com, o maior site de emprego dos Estados Unidos, eles querem de imediato salários altos (74%), horários flexíveis (61%), promoção antes de completar um ano na empresa (56%) e um pouco mais de tempo livre e férias (50%).

Exigentes, precisam da atenção constante de seus chefes. Avaliações anuais não são suficientes. Querem saber com freqüência como estão se saindo no trabalho. Ao mesmo tempo, ficam amuados quando recebem críticas. Alsop sugere que sejam repreendidos de forma cuidadosa, sob o risco de que abandonem a empresa. “Gostam de ser estimulados a toda hora, mas nem sempre recebem de forma positiva as sugestões para melhorar seu desempenho”, disse Steve Canale, gerente de recrutamento da General Electric, em entrevista a Alsop.

A hierarquia das empresas também não assusta esses jovens profissionais. “Querem ser tratados como colegas, não como subordinados, e esperam acesso livre a seus chefes, mesmo ao CEO, para defender suas idéias brilhantes”, afirma Alsop.

Apesar das exigências que fazem a suas empresas, os integrantes da geração do milênio não se sentem amarrados a elas. Se o trabalho deixa de ser gratificante, o abandonam sem pensar duas vezes, até porque não os incomoda a idéia de voltar para a casa dos pais, se necessário. Num levantamento realizado pela Michigan State University e pelo site MonsterTrak, dois terços desses jovens afirmaram que, provavelmente, “surfarão” de um emprego para outro durante suas carreiras.

O autor de The Troph Kids Grow Up acredita que as empresas terão de se adaptar, em alguma medida, à geração do milênio para conseguir reter seus talentos. Precisam de suas habilidades tecnológicas, de sua capacidade de trabalhar em equipe e de sua competência para executar vários trabalhos ao mesmo tempo. É fundamental, segundo Alsop, que mostrem claramente as oportunidades à disposição desses jovens, caso permaneçam na empresa.

Revista Epoca Negócios

CRIANÇAS PODERÃO DENUNCIAR ANTE A ONU AS VIOLAÇÕES DE SEUS DIREITOS


GENEBRA, 14 Jan 2014 (AFP) - As crianças cujos direitos foram violados poderão a partir de agora apresentar uma denúncia ante um comitê especializado da ONU, anunciou nesta terça-feira a organização.

O terceiro protocolo facultativo à Convenção da ONU sobre os direitos da crianças, vigente a partir de abril próximo, estabelece um procedimento de comunicação e protege expressamente o direito das criança a recorrer em caso de violação de seus direitos.

Este protocolo, acolhido com satisfação pela Unicef e por outros defensores dos direitos infantis, deveria ser ratificado por ao menos 10 países. A Costa Rica será o décimo a fazê-lo nesta terça-feira, em Nova York.

Em virtude deste texto as crianças poderão apresentar, a título individual ou coletivo, denúncias relacionadas com violações específicas de seus direitos, segundo os termos da Convenção relativa aos direitos da infância, o protocolo sobre as crianças em conflitos armados, sobre a venda de crianças, assim como a prostituição e a pornografia infantis.

O Comitê de Direitos da Infância, composto por 18 especialistas em direitos humanos, poderá atuar para proteger as crianças denunciantes de possíveis represálias, como pedir aos Estados envolvidos que tomem medidas provisórias para proteger a criança ou o grupo de crianças.

No caso de um país ser considerado culpado por violar a Convenção, será obrigado a aplicar as recomendações do comitê.

No entanto, apenas as crianças de países cujos governos ratificaram o protocolo facultativo que estabelece um procedimento de comunicação poderão interpor denúncias ante o Comitê.

Além da Costa Rica, os Estados que ratificaram o terceiro protocolo facultativo ate agora são Albânia, Alemanha, Bolívia, Eslováquia, Espanha, Gabão, Montenegro, Portugal e Tailândia.

CIENTISTAS CONSEGUEM LER A SUA MENTE


A ideia existe em contos de ficção científica há décadas, mas agora está perto de se tornar realidade: pesquisadores da Universidade Nijmegen de Radboug, na Holanda, descobriram uma forma de ler a mente das pessoas. Ou, mais especificamente, como decodificar para quais letras do alfabeto uma pessoa está olhando ao analisar ressonância magnética com um modelo matemático especial criado por eles. Assustador.

A imagem sugere que os pesquisadores encontraram uma forma de determinar letras a partir de uma varredura no cérebro de uma pessoa, mas não é exatamente isso. O que eles fizeram foi quebrar imagens de ressonância magnética do córtex visual de uma pessoa em 1.200 pequenos cubos que aleatoriamente acendiam quando a pessoa olhava para uma letra do alfabeto. Mas não era exatamente aleatório; os segmentos individuais acendiam seguindo o mesmo padrão para determinada letra. E este padrão permitiu aos pesquisadores ensinar o modelo matemático a reconhecer qual letra está sendo visualizada.

O modelo matemático então foi um passo adiante e manipulou os resultados da ressonância magnética para eles parecerem as letras do alfabeto de forma que a gente consiga reconhecer. Pode parecer uma forma de roubar, mas a abordagem é bem parecida com a forma como humanos rapidamente reconhecem coisas baseando-se em memórias de ter visto aquilo antes – um fenômeno conhecido como conhecimento prévio.

E considerando quão bem isso funciona nos humanos, faz sentido que cientistas usem a mesma abordagem enquanto tentam expandir a pesquisa para conseguirem ser capazes de reconstruir um rosto humano, e não apenas algumas letras. 

Radboud Universiteit Nijmegen via Gizmag

MAIORIA DOS ÁTOMOS QUE COMPÕEM OS HUMANOS FORAM PRODUZIDOS EM ESTRELAS

Nebulosa da Chama

Em 1929, o astrônomo Harlow Shapley, da Universidade Harvard, afirmou: "Nós, seres orgânicos que nos descrevemos como humanos, somos feitos da mesma matéria que as estrelas". Foi uma observação surpreendente, considerando que, na época, ninguém nem sequer sabia o que fazia as estrelas brilharem.

Trinta anos ainda se passariam até Geoffrey e Margaret Burbidge, William Fowler e Fred Hoyle, em artigo que se tornaria clássico, demonstrarem que os átomos que nos compõem não apenas são os mesmos que os das estrelas: a maioria deles foi, na verdade, produzida em estrelas. Começando pelos primordiais hidrogênio e hélio, elementos mais densos como ferro, oxigênio, carbono e nitrogênio foram gerados numa série de reações termonucleares e então espalhados pelo espaço quando essas estrelas morreram e explodiram como supernovas, num frenesi termonuclear final.

Notícias divulgadas recentemente me lembraram disso. Uma delas envolvia escaravelhos, que, aparentemente, orientam-se pela luz da Via Láctea.
A outra foi o anúncio de que astrônomos identificaram a origem da existência do ouro no Universo em um cataclismo conhecido como explosão de raios gama.

Edo Berger, do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica, no Massachusetts, disse que a explosão pode ter criado uma quantidade de ouro equivalente à massa de 20 Luas da Terra.

As próprias estrelas de nêutrons são frutos de cataclismos: explosões de supernovas que podem espremer o espaço para fora de átomos e comprimir uma massa maior que o Sol numa bola de 32 quilômetros de diâmetro.

Berger sugeriu que, de fato, é possível que todo o ouro do universo tenha sido produzido por colisões entre estrelas de nêutrons.
Isso nos traz de volta ao escaravelho.
Esses seres, que vivem das fezes de animais maiores, têm um problema. A partir do momento em que um escaravelho encontrou esterco e rolou um pouco para formar uma bola, ele precisa tirar a bola do local, rolando-a em linha reta para longe da pilha de esterco, senão outros escaravelhos virão roubá-la. Como os besouros fazem isso, mesmo em noites sem luar, têm sido um mistério.

Em janeiro, uma equipe de pesquisadores suecos e sul-africanos revelou que os escaravelhos coprófagos africanos podem usar a Via Láctea para se orientar.

Os pesquisadores descobriram que, quando eram colocados pequenos "chapéus" nos escaravelhos, impedindo-os de enxergar o céu, ou quando nuvens ocultavam as estrelas, os escaravelhos andavam a esmo. Mas eles não se desviam do caminho em noites estreladas.

Seria difícil imaginar uma conexão entre o microscópico e o macroscópico e entre o espaço interno e o sideral mais bela que essa ou que tão bem induz um sentimento de humildade.

Os antigos egípcios consideravam os escaravelhos sagrados por sua capacidade de gerar vida a partir de dejetos. O escaravelho era símbolo da renovação eterna e da vida que nasce da morte. Os egípcios usavam representações de escaravelhos como amuletos. Em um dos símbolos máximos de reciclagem, alguns desses amuletos eram feitos de ouro.

DENNIS OVERBYE
DO "NEW YORK TIMES" 

CIÊNCIA DAS MUDRAS? GESTOS DAS MÃOS AFETAM PROCESSAMENTO CEREBRAL

Há milênios, as mudras - alguns pronunciam os mudras - são usadas em uma variedade de práticas de auto aperfeiçoamento, que vão da iogae da dança indiana ao budismo e diversas outras práticas espirituais.
Mudrás são gestos feitos com as mãos simbolizando o objetivo que se deseja alcançar, seja um aspecto específico do corpo, a cura de uma determinada enfermidade ou um aspecto psicológico ou espiritual que se deseja desenvolver.
A disseminação das práticas por tantas culturas e há tanto tempo sempre atiçou a curiosidade - será que fazer determinadas posturas com as mãos tem de fato algum efeito sobre a fisiologia humana?
Agora começam a surgir os primeiros indícios coletados em experimentos científicos que dão razão aos praticantes das mudrás.
Embora a equipe da Dra. Deborah Barany, da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara (EUA), em nenhum momento se refira às mudrás em seu estudo, publicado no Journal of Neuroscience, o grupo desenvolveu umsofisticado aparato que está permitindo pela primeira vez associar movimentos sutis dos pulsos, mãos e dedos a atividades no cérebro.
E a associação encontrada foi muito forte.
Mapas cerebrais
Os pesquisadores usaram neuroimagens para decodificar como o cérebro transforma uma entrada sensorial - a postura das mãos - em ação.
Segundo eles, nossos cérebros estão repletos de mapas: mapas visuais de nossos ambientes externos e mapas motores que definem a forma como interagimos fisicamente dentro desses ambientes.
De alguma forma, esses pontos de referência precisam corresponder uns com os outros a fim de agirmos, seja para segurar uma xícara de café ou rebater uma bola de tênis.
A atividade cerebral dos voluntários foi medida enquanto eles faziam movimentos do pulso e das mãos em diferentes direções (à esquerda e à direita, ou para cima e para baixo) e em posturas definidas.
A Dra. Deborah implementou um experimento sofisticado - que outros cientistas elogiaram e disseram que vão usar em seus próprios experimentos -, no qual câmeras gravam luzes de LED distribuídas pela mão para rastrear movimentos muito sutis durante o escaneamento cerebral.
"Nós conseguimos reunir um rico conjunto de dados de movimento relacionados com a atividade do cérebro," disse ela.
Ciência das mudrás?
O principal resultado foi revelar que os mapas mentais relacionados ao movimento são altamente sensíveis à postura da mão.
"Foi surpreendente ver representações das posturas [das mãos] através de todo o sistema motor," disse Deborah. "Isso pode significar que o planejamento dependente da postura é mais difundido no cérebro do que se pensava."
O estudo também revelou áreas do cérebro que contêm mapas para a localização espacial da intenção do movimento e da direção do movimento real. Uma dessas áreas, o lóbulo parietal superior, continha informações tanto para localização quanto para a direção, o que sugere que esta área ajuda no processo de transformação da intenção em ação.
Terapias neurológicas
Segundo a equipe, os resultados ajudam a explicar os déficits de pacientes com lesões neurológicas que afetam o processamento das transformações visuomotoras - a transformação dos sinais visuais em movimentos musculares coerentes com o que a pessoa vê.
Isso poderá ajudar no desenvolvimento de novas terapias para o tratamento de pacientes com ataxia óptica - uma incapacidade de atingir com precisão os objetos - e apraxia ideomotora - uma dificuldade em imitar gestos.
E, claro, deixará mais entusiasmados os adeptos das mudrás em relação às suas práticas.
Redação do Diário da Saúde

MEDITAÇÃO MINDFULNESS

 
Jerry Seinfeld medita desde os tempos de faculdade todos os dias, duas vezes ao dia

“Mindfulness”, ou atenção plena, é um tema popular nos dias de hoje, assim como a meditação. Cada vez mais, o assunto recebe atenção nos noticiários – aqui no Hype também – e mais estudos são publicados mostrando os benefícios da atenção plena.

Embora possa soar como um termo meio psicodélico e muito “New Age” para alguns, há evidências reais de que ser mais consciente pode melhorar quase todos os aspectos da sua vida – e você não precisa ficar horas sentado em posição de lótus para chegar lá.

Mindfulness tem muitos sinônimos. Você pode chamá-la de consciência, atenção, foco, presença ou vigilância. O oposto, portanto, não é apenas inconsciência, mas também distração, desatenção e falta de compromisso.

Esta técnica é tanto uma prática quanto um estado de espírito (por falta de uma palavra melhor). Por exemplo, quando você pratica a meditação mindfulness, você está aumentando seu foco (geralmente por prestar mais atenção à sua respiração) e treinando o seu cérebro a ser mais consciente muito tempo depois de você terminar de meditar. Quando você está exibindo a atenção plena, você está completamente absorto em tudo o que está acontecendo ao seu redor. (Há outros exercícios de conscientização além da mindfulness, como você verá abaixo. Também há muitos outros tipos de meditação, e ainda que estejam intimamente relacionadas, elas não são a mesma coisa).

Pensar em mindfulness como simplesmente “estar plenamente no momento”. O Dr. Jon Kabat-Zinn define a prática como “prestar atenção de propósito, no momento presente, sem julgamentos, como se sua vida dependesse disso”. Essa pode ser a definição simples, mas ficar 100% comprometido não é fácil, especialmente em nosso mundo cheio de distrações. Significa ouvir ativamente e não viajar dentro da sua cabeça (mesmo que só um pouco) quando o seu colega de trabalho conta a mesma história pela terceira vez. E também significa usar todos os seus sentidos até mesmo em situações corriqueiras, como lavar a louça ou andar até o ponto de ônibus.

A atenção plena tem raízes na filosofia e religião budista, e é considerada muito importante para o caminho para a iluminação. Mas a técnica também assume uma nova e secular definição quando vista sob as lentes da psicologia ocidental. A Dra. Ellen Langer, professora de psicologia da Universidade de Harvard (EUA), escreveu um livro sobre conceitos de mindfulness. Ela a define como a inclusão desses atributos importantes:

Atenção plena tem raízes na filosofia e religião budista, considerada importante para o caminho para a iluminação. Mas a técnica também assume uma nova e secular definição quando vista sob as lentes da psicologia ocidental. A Dra. Ellen Langer, professora de psicologia da Universidade de Harvard (EUA), escreveu um livro sobre conceitos de mindfulness. Ela a define como a inclusão desses atributos importantes:

A criação contínua de novas categorias: em vez de confiar rigidamente em categorias e rótulos antigos, a mindfulness está prestando atenção à situação, contexto e vendo novas distinções. Por exemplo, em vez de ver um tijolo como simplesmente um objeto de construção, você pode também considerá-lo um suporte para livros, uma arma, um batente, e muito mais;

Acolher novas informações, mais de um ponto de vista: criação de categorias, a atenção plena implica também receber continuamente novas informações e estar aberto a novas sugestões (sociais ou não). Você e seu parceiro, por exemplo, podem parecer brigar pelas mesmas coisas de sempre, mas estar aberto ao ponto de vista da outra pessoa poderia mudar essa dinâmica;

Processo acima do resultado: focar em cada passo ao invés de ficar preocupado com os resultados. Em vez de se preocupar com em gabaritar um teste, concentre-se em realmente aprender o assunto.

Em suma, a atenção plena tem a ver com sintonia e ser mais consciente de cada experiência que você tem.

 “Então, qual é o objetivo disso?”. Como as definições acima antecipam, a atenção plena poderia ajudá-lo a tornar-se mais focado, mais criativo, mais feliz, mais saudável, mais relaxado e no controle. Ela também pode ajudá-lo a apreciar mais plenamente cada momento atual (que é tudo o que temos, na verdade). A formação em mindfulness pode:

Melhorar a memória e desempenho acadêmico. Em um estudo, os alunos que fizeram exercícios de construção de atenção haviam aumentado o foco (ou tinham menos divagação mental), mais memória de curto prazo, e melhor desempenho em exames como o GRE (Graduate Record Examination, prova feita para entrar no mestrado nos EUA), para qual deveria ser impossível de treinar.

Ajudar com a perda de peso e o consumo de alimentos mais saudáveis. Comer consciente significa prestar atenção a cada mordida e comer devagar, prestando atenção a todos os seus sentidos. Os participantes nos estudos de mindfulness consumiram menos calorias quando estavam com mais fome do que os grupos de controle.

Levar a uma melhor tomada de decisão. Dois experimentos associaram a meditação mindfulness ou apenas uma tendência natural a ser mais conscientemente ciente a ser menos propenso a não desistir de causas perdidas, como um relacionamento ruim ou trabalho sem perspectiva – por causa do tempo e energia já investidos.

Reduzir o estresse e ajudar a lidar com problemas crônicos de saúde. Uma meta-análise de 20 relatos empíricos descobriu que a mindfulness aumentou tanto o bem-estar mental quanto físico em pacientes com dor crônica, câncer, doenças cardíacas e mais.

Melhorar a imunidade e criar mudanças cerebrais positivas. Os pesquisadores mediram a atividade cerebral antes e depois de voluntários seram treinados em meditação mindfulness durante oito semanas.

Oferecer benefícios cerebrais como melhor foco, mais criatividade, menos ansiedade e depressão.

Infelizmente, a atenção plena não é um interruptor que você pode simplesmente apertar e, em seguida, de repente você se transforma no Sr. ou na Sra. Consciência para o resto de sua vida. Contudo, é algo que você pode cultivar.

Limitar distrações e simplesmente dizer não a realizar várias tarefas ao mesmo tempo pode ajudá-lo a ficar mais concentrado. A mindfulness exige que você seja mais consciente, mesmo nas situações mais movimentadas e estressantes (e é aí que ela vem a ser muito útil também).

Uma maneira simples de começar é criar “gatilhos” ou “pistas” para puxá-lo de volta para o presente quando sua mente, inevitavelmente, começar a vagar. Por exemplo, enquanto come, não se esqueça de saborear cada mordida cada vez que você colocar o seu garfo na boca. No trabalho, você pode programar um alarme de hora em hora ou algum outro tipo de lembrete para fazer uma pausa naquele momento. Fazer uma pausa antes de responder algo a alguém também pode ajudá-lo a tornar-se mais consciente em seus relacionamentos, familiares, fraternos ou amorosos. Mais práticas (aparentemente simples) incluem treinar a valorização e abrir mão do controle.

Em um estudo acadêmico, o treinamento da mente que levou à melhor memória e aprendizado envolvia esses 6 passos:

Sentar-se em uma postura ereta, com as pernas cruzadas e olhar abaixado;

Distinguir entre os pensamentos que surgem naturalmente e o pensar elaborado;

Minimizar a distração com preocupações passadas e futuras reformulando-as como projeções mentais que ocorrem no presente;

Usar a respiração como uma âncora para a atenção durante a meditação;

Contar repetidamente até 21 expirações consecutivas;

Permitir que a mente descanse naturalmente ao invés de tentar suprimir a ocorrência de pensamentos.

Você pode estar familiarizado com os passos acima como meditação mindfulness – uma das melhores maneiras de cultivar a atenção. É um exercício para o cérebro e você pode fazê-lo enquanto conduz o seu dia normalmente (uma estratégia poderia ser a de escolher uma parte de sua rotina diária a ser usada para o treinamento da mente, como quando você toma banho ou passeia com o cachorro).
Como nota final, apesar de praticar a consciência plena ser muito benéfico, há momentos em que é melhor deixar a mente divagar. O jornal “The New York Times” relata que a criatividade e percepção podem depender de deixar sua mente vagar e sonhar, e um estudo sugere que maior atenção plena pode ser conectada com uma “aprendizagem implícita” ( adquirir inconscientemente novas habilidades ou hábitos) mais fraca.

“Depois de meditar sobre tais achados sacrílegos, sem dúvida o Buda, que ensinava um meio-termo entre as preocupações mundanas e espirituais, teria concordado que há um momento para a utilização de mindfulness para descobrir verdades interiores, um momento para usá-la para sobreviver a uma batalha ou uma prova e um momento abrir mão da mindfulness para que a mente possa vagar pelo universo”, diz a reportagem.

Sua missão, se você optar por aceitá-la, é encontrar esses momentos de equilíbrio entre ligar a consciência e fazer uma pausa mental. 
Life Hacker